quinta-feira, 28 de abril de 2016

FORAM O UNIVERSO E A TERRA CRIADOS AO MESMO TEMPO?

Segundo o relato da Criação, com que a Bíblia se inicia, “no PRINCÍPIO, criou Deus os céus e a terra.” (Génesis 1:1). Mas, pergunta fulcral: que “princípio” foi este? À primeira vista, esta pergunta poderá parecer desnecessária e, por conseguinte, até ridícula! A resposta mais óbvia parece ser uma simples redundância: o princípio é o princípio, ponto final. Certamente que deveria ser por aqui que deveríamos ficar, se a própria Bíblia não nos falasse de outros “princípios”. De facto, esses outros “princípios” parecem não ter nada a ver com este “princípio” mencionado em Génesis 1:1. Senão vejamos:

Disse Jesus: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o PRINCÍPIO e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (João 8:44).

“Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o PRINCÍPIO. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo.” (1 João 3:8).

Segundo o relato da Criação (em Génesis 2), assim que Deus criou Adão deu-lhe IMEDIATAMENTE uma ordem para não comer do fruto de uma determinada árvore que havia no jardim do Éden: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. E o Senhor Deus lhe deu esta ordem (1):

De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Génesis 2:15-17).

 Fácil nos é compreender que, se Deus deu esta ordem a Adão (ainda antes da criação de Eva), é porque o diabo já era um inimigo declarado de Deus e, se estava presente no jardim do Éden, é porque já tinha sido “atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos” (Apocalipse 12:9)!

Ou seja, os acontecimentos que rodearam a criação deste mundo e de Adão e Eva, tiveram claramente lugar NUM TEMPO POSTERIOR à expulsão de satanás e dos seus anjos do céu.

Ora, se a criação deste mundo e de Adão e Eva ocorreram após a expulsão de satanás do céu, com muito maior legitimidade podemos então afirmar que a criação da terra e da raça humana ocorreram MUITO DEPOIS da criação de Lúcifer, uma vez que, também ele, foi criado por Deus (o texto de Ezequiel 28:15, referindo-se a satanás, afirma: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que FOSTE CRIADO até que se achou iniquidade em ti.”).
Ou seja, uma primeira conclusão podemos já retirar: o Deus Criador trouxe à existência seres criados em DIFERENTES MOMENTOS, no tempo! Mas há mais…

Não só foram satanás, e provavelmente outros anjos, criados MUITO ANTES de Deus ter criado este planeta Terra e os seus habitantes, mas outros seres (não angélicos) foram também criados ANTES desta terra e dos seus habitantes terem vindo à existência! É o que nos diz o próprio Deus, numa série de perguntas que colocou ao Seu servo Jó para levar este a cair em si e a reconhecer a Sua autoridade suprema sobre todas as coisas: “Onde estavas tu, quando Eu lançava os fundamentos da terra (2)?

Diz-mo, se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva [entenda-se: anjos], juntas, alegremente cantavam e rejubilavam todos os filhos de Deus?” (Jó 38:4-7).

Quem eram estes “filhos de Deus”, aqui mencionados, que “rejubilavam”, se os próprios “fundamentos da terra” ainda estavam a ser lançados? Seres humanos? De forma alguma, uma vez que estes só foram criados depois da terra ter sido fundada! A única resposta plausível é que se tratavam de seres, também eles, obviamente, criados por Deus, mas que JÁ EXISTIAM aquando da criação desta terra e dos seus habitantes! Foi tudo criado por Deus ao mesmo tempo? A resposta a esta pergunta agora parece-nos óbvia: Não! Mas ainda há mais…

Um fabuloso texto que encontramos no livro de Provérbios vem, de forma clara e definitiva, encerrar este assunto e esclarecer, uma vez por todas, a nossa questão inicial (as palavras em maiúsculas têm a função de realçar o assunto que estamos a tentar compreender):

“O Senhor me possuía no início da Sua obra, antes das suas OBRAS MAIS ANTIGAS. Desde a eternidade fui estabelecida (3), desde O PRINCÍPIO, ANTES DO COMEÇO DA TERRA. Antes de haver abismos, eu nasci, e antes ainda de haver fontes carregadas de águas. Antes que os montes fossem firmados, antes de haver outeiros, eu nasci. AINDA ELE NÃO TINHA FEITO A TERRA, nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo. QUANDO ELE PREPARAVA OS CÉUS, aí estava eu;” (Provérbios 8:22-27).

Conclusões óbvias a retirar deste texto:
1ª) Há “OBRAS MAIS ANTIGAS” do que outras, o que significa claramente que Deus não criou tudo ao mesmo tempo, mas foi antes criando diferentes obras em diferentes épocas, no tempo;

2ª) O “PRINCÍPIO” aqui referido nesta passagem bíblica refere-se claramente a uma época que existiu “ANTES DO COMEÇO DA TERRA”. Daí que possamos inferir que o “princípio” mencionado em Génesis 1:1 pode não se referir, necessariamente, ao “começo [desta] terra”;

3ª) O texto refere ainda que “AINDA ELE NÃO TINHA FEITO A TERRA” quando já “PREPARAVA OS CÉUS”. Pelo paralelismo típico da literatura hebraica (sobretudo na chamada literatura poética e sapiencial, de que o livro de Provérbios é um exemplo), podemos colocar em paralelo as seguintes expressões:

“antes do começo da terra” = “ainda Ele não tinha feito a terra”
e
“[as] suas obras mais antigas” = “quando Ele preparava os céus”
e concluir que a criação dos céus ocorreu ANTES da criação da terra, uma vez que a criação dos “céus” aparece na categoria das “Suas obras mais antigas”.

Conclusões finais:
O texto de GÉNESIS 1:1, à luz de outros textos bíblicos, pode assim ser facilmente compreendido como sendo uma referência genérica à CRIAÇÃO DO UNIVERSO, assim como à criação de um primeiro “esboço” da terra (“esboço” esse que corresponde à “terra… sem forma e vazia”, mencionado no versículo 2).

O universo foi, todo ele, criado por Deus (ver: Hebreus 11:3), mas numa época ANTERIOR à criação deste planeta Terra em que habitamos. E tal conclusão, longe de pôr em causa qualquer princípio de fé bíblico, reforça antes a nossa compreensão do Deus que a Bíblia nos apresenta.

Pensemos no seguinte: acreditamos nós que Deus é simultaneamente um Deus eterno e um Deus criador? Para qualquer cristão bíblico, a resposta é clara e óbvia: SIM! Então, se Deus é um Deus criador e ao mesmo tempo um Deus eterno, não fará muito mais sentido acreditar que Ele foi manifestando o Seu poder criador ao longo dos séculos e milénios da Eternidade? Certamente que sim, tanto mais que é ISSO MESMO que a Bíblia nos revela!

Uma última pergunta: faz algum sentido aceitar que possam existir estrelas que emitem a sua luz há milhares, milhões ou mesmo biliões de anos? Respondo com outra pergunta: o que é que são esses milhares, milhões ou biliões de anos, comparados com A ETERNIDADE DE DEUS? Daí que a expressão contida em Génesis 1:16 (“e fez também as estrelas”) não faça muito sentido no contexto da criação desta terra! De facto, essa expressão não aparece nos manuscritos mais antigos e terá sido, por isso, segundo alguns estudiosos bíblicos, adicionada por um escriba no decorrer de um trabalho de cópia, talvez por esse escriba considerar que, nesse texto, seria provavelmente o melhor local para se falar da criação das estrelas, cuja referência lhe parecia estar omissa (e provavelmente estaria mesmo!).

“Foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”? Sem dúvida alguma que sim! Mas o autor da epístola aos Hebreus, o apóstolo Paulo, diz-nos (em Hebreus 11:3) que é “pela fé” que “entendemos” essa realidade, o que pressupõe que tal conhecimento ultrapassa qualquer paradigma meramente racional e/ou científico.

(4). É pela fé que entendemos, e não apenas pela razão, porque a razão aqui torna-se claramente INSUFICIENTE para apreendermos a globalidade das obras criadas por um Deus omnipotente!

Mas uma coisa podemos saber e compreender de forma racional: Deus NÃO CRIOU TUDO AO MESMO TEMPO, porque sendo Ele simultaneamente Eterno e Criador, foi manifestando em diferentes épocas sucessivas o Seu Poder Criador. Eu assim o creio, PORQUE A BÍBLIA O DIZ!
NOTAS:

(1) “Esta ordem” mostra como Deus tinha criado seres moralmente livres. Afinal de contas, se não tivessem a possibilidade de desobedecer, porquê adverti-los?

(2) Certamente que a “terra” aqui mencionada se refere ao nosso planeta Terra!

(3) Referência à Sabedoria, que Ellen White afirmou tratar-se da pessoa de Jesus Cristo:

"O Senhor Jesus Cristo, o divino Filho de Deus, existiu desde a eternidade, como pessoa distinta, mas um com o Pai. Era Ele a excelente glória do Céu. Era o Comandante dos seres celestes, e a homenagem e adoração dos anjos era por Ele recebida como de direito. Isto não era usurpação em relação a Deus. “O Senhor Me possuiu no princípio de Seus caminhos”, declara Ele, “e antes de Suas obras mais antigas. Desde a eternidade, fui ungida; desde o princípio, antes do começo da Terra. Antes de haver abismos, fui gerada; e antes ainda de haver fontes carregadas de águas. Antes que os montes fossem firmados, antes dos outeiros, eu fui gerada. Ainda Ele não tinha feito a Terra, nem os campos, nem sequer o princípio do pó do mundo. Quando Ele preparava os céus, aí estava eu; quando compassava ao redor a face do abismo.” Provérbios 8:22-27." (EGW, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 247, da edição online)

"O Soberano do Universo não estava só em Sua obra de beneficência. Tinha um companheiro — um cooperador que poderia apreciar Seus propósitos, e participar de Sua alegria ao dar felicidade aos seres criados. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus”. João 1:1, 2. Cristo, o Verbo, o Unigênito de Deus, era um com o eterno Pai — um em natureza, caráter, propósito — o único ser que poderia penetrar em todos os conselhos e propósitos de Deus. “O Seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”. Isaías 9:6. Suas “saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. Miquéias 5:2. E o Filho de Deus declara a respeito de Si mesmo: “O Senhor Me possuiu no princípio de Seus caminhos, e antes de Suas obras mais antigas. [...] Quando compunha os fundamentos da Terra, então Eu estava com Ele e era Seu aluno; e era cada dia as Suas delícias, folgando perante Ele em todo o tempo”. Provérbios 8:22-30." (EGW, Patriarcas e Profetas, pág. 8, da edição online)

(4) Isto tendo em conta que, de uma maneira geral, o paradigma científico atual não aceita nada da ordem do sobrenatural, apenas factos do mundo natural. Por conseguinte, é rejeitada liminarmente e, à partida, qualquer intervenção da fé! Contudo, não deixa de ser estranha tal assunção, pois, na prática, na base de qualquer paradigma científico a fé ou a crença em algo está presente!

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