A expressão de parte dos nossos sentimentos e emoções através das
queixas faz parte natural da experiência humana, visto que NÃO EXISTE
ser humano que nunca tenha vivido esta experiência de se queixar de algo
e/ou de alguém! Contudo, para o cristão que já tenha acumulado alguma
experiência de relacionamento pessoal com Deus, através da fé, a
vivência das queixas apresentará uma mudança gradual e substancial na
sua vida.
No ano 586 a.C. (e à luz dos textos de Jeremias 52:6-7,
o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (volume 2, pág. 987)
avança mesmo com a data provável de 19 de julho, no nosso calendário
atual) a cidade de Jerusalém, capital do reino de Judá (igualmente
conhecido como o reino do sul), CAIU sob o poder do exército de
Babilónia e, um mês e um dia depois (ver: Jeremias 52:12), provavelmente
a 19 de agosto de 586 a.C., foi brutalmente INCENDIADA e DESTRUÍDA:
"Nebuzaradã, o chefe da guarda e servidor do rei da Babilónia, veio a
Jerusalém. E queimou a Casa do SENHOR e a casa do rei, como também todas
as casas de Jerusalém; também entregou às chamas todos os edifícios
importantes. Todo o exército dos caldeus que estava com o chefe da
guarda derrubou todos os muros em redor de Jerusalém." (Jeremias
52:12-14).
Mas, precedendo a destruição da cidade de Jerusalém,
houve algo não menos terrível que aconteceu à cidade, ou melhor, aos
habitantes da mesma, a saber, um terrível CERCO feito pelas tropas
babilónicas e que durou nada menos do que 2 anos, 6 meses e 4 dias, mais
precisamente de 15 de janeiro de 588 a.C. a 19 de julho de 586 a.C.
(ver: Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, volume 2, pág. 987).
Como é fácil de compreender, esse cerco feito pelos babilónios à cidade
de Jerusalém, provocou a completa depleção dos bens alimentares na
cidade sitiada e a consequente fome horrível que se seguiu ("quando a
cidade se via apertada da fome, e não havia pão para o povo da terra,
então, a cidade foi arrombada" - Jeremias 52:6 e 7). A fome foi tão
terrível que as "mães comeram os seus próprios filhos na extremidade, e a
pele dos doentes tornou-se negra e ressequida" (Lamentações de Jeremias
2:11, 12, 19, 20; 4:3-10; 5:10). O Senhor tinha advertido o Seu povo
que tais condições terríveis seriam o resultado da transgressão
(Levítico 26:29; Deuteronómio 28:53-57; Jeremias 14:12-16; 15:2; 27:8,
13; Ezequiel 4:16, 17; 5:10, 12)." (ibidem). E muitos dos que tinham
sobrevivido à fome resultante do cerco, "o rei dos caldeus... matou os
seus jovens à espada, na casa do Seu santuário; e não teve piedade nem
dos jovens nem das donzelas, nem dos velhos nem dos mais avançados em
idade" (2 Crónicas 36:17), e "os que escaparam da espada, a esses levou
ele para a Babilónia, onde se tornaram seus servos e de seus filhos, até
ao tempo do reino da Pérsia" (2 Crónicas 36:20). E isto "para que se
cumprisse a palavra do SENHOR, por boca de Jeremias, até que a terra se
agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação repousou, até que
os setenta anos se cumpriram" (2 Crónicas 36:21).
Antes do cerco
e da destruição da cidade de Jerusalém, destruição essa que, como
vimos, ocorreu no ano de 586 a.C., os babilónios tinham
levado a efeito DUAS INVASÕES PRÉVIAS ao reino de Judá:
- A PRIMEIRA dessas invasões teve lugar no ano 605 a.C. (o ano do
início do reinado de Nabucodonosor) e dessa invasão resultou o exílio de
Daniel e dos seus três companheiros, Hananias, Misael e Azarias: "Disse
o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos
filhos de Israel, tanto da linhagem real como dos nobres, jovens sem
nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda a sabedoria, doutos
em ciência, versados no conhecimento [BABILÓNIA TEM UMA APETÊNCIA
ESPECIAL pelos jovens, mas sobretudos pelos jovens "de linhagem real",
"sem nenhum defeito", "de boa aparência", "instruídos em toda a
sabedoria", "doutos em ciência" e "versados no conhecimento"]... Entre
eles, se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e
Azarias" (Daniel 1:3-4, 6);
- A SEGUNDA dessas invasões teve
lugar no ano 597 a.C. e dessa invasão resultou o exílio do rei Jeoaquim
(ver: 2 Crónicas 36:5-8), do profeta Ezequiel (ver: Ezequiel 1:1-3) e de
grande parte da sua população das classes mais elevadas (ver: 2 Reis
24:14);
- A TERCEIRA dessas invasões resultou, como já vimos, no
cerco e destruição da cidade de Jerusalém (588-586 a.C.), com a
consequente deportação da maior parte da população de Judá para
Babilónia. "Porém os mais pobres da terra deixou Nebuzaradã, o chefe da
guarda, ficar alguns para vinheiros e para lavradores" (Jeremias 52:16).
O profeta Jeremias tinha permanecido na cidade de Jerusalém após as
duas primeiras invasões babilónicas e, por essa razão, viveu em
Jerusalém DURANTE O CERCO da mesma (de 588 a 586 a.C.) e viu a cidade
ser destruída. Os horrores desse cerco, Jeremias os descreveu no seu
livro "Lamentações de Jeremias" (compreendem agora a razão de ser do
título desse seu livro, correto?).
É fácil de imaginar, aquando
do cerco de Jerusalém, uma esmagadora maioria dos seus habitantes, para
não dizer mesmo TODOS, a QUEIXAREM-SE das terríveis condições em que
viviam e, muito provavelmente, a trocarem entre si acusações mútuas
sobre as CAUSAS da situação de crise em que estavam a viver! Foi
precisamente NESSE CONTEXTO, que Jeremias proferiu estas solenes
palavras: "Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um
dos seus próprios pecados." (Lamentações de Jeremias 3:39).
Numa
altura em que as atuais "forças de Babilónia" se preparam para cercar
(ou já estão a cercar) a "atual Jerusalém" ("quem lê entenda" - Mateus
24:15), é de VITAL IMPORTÂNCIA que CADA UM DE NÓS ATENDA A ESTE APELO
feito por um genuíno profeta do SENHOR (tanto mais que as condições do
atual povo de Deus irão ser, seguramente, CADA VEZ MAIS SEMELHANTES às
condições do antigo cerco de Jerusalém): "QUEIXE-SE CADA UM DOS SEUS
PRÓPRIOS PECADOS." (Lamentações de Jeremias 3:39). Todos os habitantes
de Jerusalém que viviam a situação do cerco de Jerusalém tinham,
seguramente, "culpas no cartório", pois "não há homem justo sobre a
terra que faça o bem e que não peque" (Eclesiastes 7:20), mas passavam o
tempo a fazerem queixas (daí a pergunta do profeta Jeremias: "por que,
pois, se QUEIXA o homem vivente?") que não lhes aproveitavam PARA NADA!
E, segundo o profeta do Senhor, as ÚNICAS QUEIXAS LEGÍTIMAS que eles
poderiam e deveriam fazer, era que cada um se queixasse, sim, MAS "DOS
SEUS PRÓPRIOS PECADOS"! Seremos nós, hoje, diferentes dos antigos
judeus? Certamente que não! Daí que: "Quem tem ouvidos, ouça o que o
Espírito diz às igrejas" (Apocalipse 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22)!
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