segunda-feira, 25 de abril de 2016

EM CONTACTO COM OS OUTROS

(NOTA: Este post é uma TRANSCRIÇÃO INTEGRAL do capítulo 41 do livro de EGW, "A Ciência do Bom Viver", edição da Publicadora Servir (de Portugal), publicada em julho de 2015. Na edição online, o capítulo é o mesmo na versão integral e é o 40 na versão condensada, embora, nesta última, sem o texto completo.)
Todos os relacionamentos sociais exigem o exercício do domínio próprio, da paciência e da simpatia. Somos tão diferentes uns dos outros em disposição, hábitos e educação, que a nossa forma de ver as coisas varia muito. Julgamos de maneira diferente. A nossa compreensão da verdade, as nossas ideias em relação à gestão da vida não são as mesmas em todos os aspetos. Não há duas pessoas cuja experiência seja igual em cada pormenor. As provas de uma não são as provas de outra. Os deveres que uma acha leves são, para outra, mais difíceis e perturbadores.
A natureza humana é tão fraca, tão ignorante e tão sujeita ao erro, que todos devemos ser cautelosos na avaliação que fazemos do outro. Conhecemos mal a influência que os nossos atos têm sobre a experiência dos outros. O que fazemos ou dizemos pode parecer-nos de pouca importância, quando, se os nossos olhos se abrissem, veríamos que daí resultam as mais importantes consequências para o bem ou para o mal.
Consideração para com os que carregam fardos
Muitas pessoas têm suportado tão poucos fardos, o seu coração tem vivido tão poucas angústias reais, têm sentido tão pouca perplexidade e preocupação com as situações dos outros, que não conseguem compreender o trabalho de quem verdadeiramente carrega fardos. São tão incapazes de apreciar as cargas dessas pessoas como a criança é incapaz de compreender os cuidados e as fadigas do seu sobrecarregado pai. A criança pode achar estranhos os temores e perplexidades do pai. Parecem-lhe inúteis. Mas, quando a sua experiência tiver aumentado com os anos, quando tiver de carregar os próprios fardos, olhará de novo para a vida do pai, e compreenderá então o que antes era incompreensível. A experiência amarga deu-lhe conhecimento.
A obra de muitas pessoas que carregam fardos não é compreendida, nem apreciados os seus trabalhos, senão depois da sua morte. Quando outros pegam nas cargas que eles depuseram, e enfrentam as dificuldades que eles encontraram, compreendem até que ponto foram provadas a fé e a coragem dessas pessoas. Muitas vezes, perdem, então, de vista os erros que estavam tão prontos a censurar. A experiência ensina-lhes a simpatia. Deus permite que os homens sejam colocados em posições de responsabilidade. Quando erram, tem poder para os corrigir, ou para os retirar do cargo que exercem. Devemos ter o cuidado de não tomar nas nossas mãos o trabalho de julgar que pertence a Deus.

O comportamento de David para com Saul contém uma lição. Por ordem de Deus, Saul tinha sido ungido como rei de Israel. Devido à sua desobediência, o Senhor declarou que o reino lhe seria tirado, e, contudo, quão amável, atenciosa e paciente foi a conduta de David para com ele! Ao procurar tirar a vida a David, Saul dirigiu-se para o deserto e, sozinho, penetrou precisamente na caverna em que David e os seus soldados estavam escondidos: “Então, os homens de David lhe disseram: Eis aqui o dia do qual o Senhor te diz: Eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem a teus olhos. ... E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, estendendo eu a minha mão contra ele; pois é o ungido do Senhor”. (I Samuel 24:4-6). O Salvador ordena-nos: “Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós”. (Mat. 7:1 e 2). Lembrem-se de que, em breve, o registo da vossa vida passará em revista diante de Deus. Lembrem-se, também, de que Ele disse: “És inescusável quando julgas, ó homem; ... pois tu, que julgas, fazes o mesmo”. (Rom. 2:1).
Paciência quando ofendido
Não podemos permitir que o nosso espírito se irrite por algum mal real ou suposto que nos tenha sido feito. O inimigo que mais devemos temer é o próprio eu. Nenhuma forma de vício tem efeito mais funesto sobre o caráter do que a paixão humana quando não está sob o domínio do Espírito Santo. Nenhuma vitória que possamos ganhar será tão preciosa como a vitória sobre nós mesmos.
Não podemos permitir que os nossos sentimentos sejam facilmente feridos. Devemos viver, não para proteger a nossa sensibilidade ou a nossa reputação, mas para salvar pessoas. Quando estamos interessados na salvação das pessoas, deixamos de nos preocupar com as pequenas diferenças que muitas vezes surgem ao relacionar-nos uns com os outros. Seja o que for que os outros pensem de nós ou nos façam, nada deve perturbar a nossa união com Cristo, a nossa companhia com o Espírito. “Que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas, se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus”. (I Pedro 2:20).
Não se vinguem. Na medida das vossas possibilidades, eliminem tudo o que possa provocar mal-entendidos. Evitem a aparência do mal. Façam tudo o que estiver ao vosso alcance, sem comprometer os princípios, para ganhar a simpatia dos outros. “Se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta”. (Mat. 5:23 e 24).
Se vos forem dirigidas palavras impacientes, nunca respondam no mesmo espírito. Lembrem-se de que “a resposta branda desvia o furor”. (Prov. 15:1). Há um poder maravilhoso no silêncio. As palavras ditas em resposta a alguém encolerizado por vezes servem apenas para o exasperar. Mas a cólera, respondida com silêncio e com um espírito amável e paciente, em breve se esvai.
Sob uma tempestade de palavras ferinas e acusadoras, conservem o vosso espírito apoiado na Palavra de Deus. Encham o vosso espírito e o vosso coração com as promessas divinas. Se forem maltratados ou acusados injustamente, em vez de responder com ira, repitam para vós mesmos as preciosas promessas: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”. (Rom. 12:21).
“Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nEle, e Ele tudo fará. E Ele fará sobressair a tua justiça como a luz; e o teu juízo, como o meio-dia”. (Sal. 37:5 e 6).
“Nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido”. (Luc. 12:2).
“Fizeste com que os homens cavalgassem sobre a nossa cabeça; passamos pelo fogo e pela água; mas trouxeste-nos a um lugar de abundância”. (Sal. 66:12).
Somos inclinados a procurar simpatia e ânimo junto dos nossos semelhantes, em vez de olharmos para Jesus. Na Sua misericórdia e fidelidade, Deus permite muitas vezes que nos desiludam aqueles em quem depositamos confiança, para que possamos compreender quão insensato é confiar nos homens e apoiar-nos na carne. Confiemos inteira, humilde e abnegadamente em Deus. Ele conhece as tristezas que sentimos no mais profundo do nosso ser e que não podemos exprimir. Quando tudo nos parece escuro e inexplicável, lembremo-nos das palavras de Cristo: “O que Eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois”. (João 13:7).
Estudem a história de José e de Daniel. O Senhor não impediu as maquinações dos homens que procuravam fazer-lhes mal; mas fez com que todos esses ardis redundassem para o bem dos Seus servos, que, no meio de provas e lutas, mantiveram a sua fé e a sua lealdade.
Enquanto estivermos no mundo, encontraremos influências adversas. Haverá provocações para provar a nossa têmpera; e é ao enfrentá-las com o espírito certo que as virtudes cristãs são desenvolvidas. Se Cristo habitar em nós, seremos pacientes, bondosos e tolerantes, alegres no meio das contrariedades e das irritações. Dia após dia, e ano após ano, iremos vencendo o nosso eu e crescendo até chegarmos a um nobre heroísmo. Essa é a tarefa que nos foi atribuída; mas não pode ser cumprida sem o auxílio de Jesus, sem uma decisão séria, sem um propósito firme, sem contínua vigilância e sem oração incessante. Cada um tem uma luta pessoal a travar. Nem o próprio Deus pode tornar o nosso caráter nobre ou a nossa vida útil, se não colaborarmos com Ele. Aqueles que se recusam a lutar perdem a força e a alegria da vitória.
Não precisamos de guardar o nosso próprio registo das provas e dificuldades, dos desgostos e tristezas. Todas essas coisas estão escritas nos livros, e o Céu cuidará delas. Enquanto relembramos as coisas desagradáveis, são esquecidas muitas outras sobre as quais é agradável refletir, como a misericordiosa bondade de Deus que nos rodeia a cada instante, e o amor, que deixa os anjos maravilhados, que Deus manifestou ao dar o Seu Filho para morrer por nós. Se, como obreiros de Cristo, sentem que têm tido maiores cuidados e provas do que os outros, lembrem-se de que, para vós, há uma paz que os que evitam estes fardos desconhecem. Há conforto e alegria no serviço de Cristo. Mostremos ao mundo que a vida com Ele não é um fracasso.
Se não se sentem satisfeitos e alegres, não falem dos vossos sentimentos. Não anuviem a vida dos outros. Uma religião fria e sombria nunca atrai almas para Cristo. Afasta-as d'Ele, para as redes que satanás estendeu para os pés dos transviados. Em vez de pensar nos vossos desânimos, pensem no poder de que podem dispor em nome de Cristo. Deixem que a vossa imaginação se fixe nas coisas invisíveis. Que os vossos pensamentos se dirijam para as evidências do grande amor de Deus por vós. A fé pode suportar a prova, vencer a tentação, aguentar o desapontamento. Jesus vive e é o nosso advogado. tudo o que a Sua mediação assegura pertence-nos.
Não acham que Cristo aprecia quem vive inteiramente para Ele? Não acham que visita os que, como o amado João no exílio, estão em lugares difíceis e penosos? Deus não permite que um só dos Seus fiéis obreiros seja deixado sozinho, a lutar em grande desvantagem, e que seja vencido. Preserva, como uma joia preciosa, todo aquele cuja vida está escondida com Cristo n'Ele. De cada um destes, Deus diz: Eu "te farei como um anel de selar; porque te escolhi" (Ageu 2:23).
Portanto, falem das promessas; falem de quão pronto Jesus está para abençoar. Ele não nos esquece nem um só instante. Quando, apesar das circunstâncias desagradáveis, repousamos confiadamente no Seu amor e mantemos a nossa comunhão com Ele, o sentimento da Sua presença inspirará uma alegria profunda e tranquila. De Si, disse Cristo: “Nada faço por Mim mesmo; mas falo como o Pai Me ensinou. E Aquele que Me enviou está comigo; o Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada.” (João 8:28-29).
A presença do Pai rodeava Cristo, e nada Lhe sucedia que o amor infinito não tivesse permitido para bênção do mundo. Aí residia o Seu motivo de conforto, e o nosso também. Quem está imbuído do Espírito de Cristo habita em Cristo. Tudo o que lhe sucede vem do Salvador que o rodeia com a Sua presença. Nada pode atingi-lo sem a permissão do Senhor. Todos os nossos sofrimentos e desgostos, todas as nossas tentações e provas, todas as nossas tristezas e pesares, todas as perseguições e privações por que passamos, em suma, todas as coisas cooperam para o nosso bem. Todas as experiências e circunstâncias são agentes de Deus através dos quais o bem chega até nós.
Se compreendemos a paciência de Deus para connosco, não julgaremos nem acusaremos ninguém. Quando Cristo vivia na Terra, quão surpresos ficariam os que O acompanhavam se, depois de familiarizados com Ele, Lhe ouvissem dizer uma palavra de acusação, de crítica destrutiva ou de impaciência. Não esqueçamos que aqueles que O amam devem representá-Lo no Seu caráter.
“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.” (Rom. 12:10). “Não tornando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, sabendo que para isto fostes chamados, para que, por herança, alcanceis a bênção.” (I Pedro 3:9).
O Senhor Jesus exige que reconheçamos os direitos de cada pessoa. Devem ser tomados em consideração os direitos sociais dos seres humanos e os seus direitos como cristãos. Todos devem ser tratados com amabilidade e delicadeza, como filhos e filhas de Deus.
O cristianismo transformará um homem num cavalheiro. Cristo era cortês, mesmo com os Seus perseguidores; e os Seus verdadeiros seguidores devem manifestar o mesmo espírito.

Olhem para Paulo, conduzido perante os magistrados. O seu discurso diante de Agripa é um exemplo de verdadeira cortesia, assim como de persuasiva eloquência.

O Evangelho não ensina a cortesia formal usada no mundo, mas a cortesia que deriva de um coração verdadeiramente bondoso.
O mais cuidadoso cultivo das características externas da vida não é suficiente para eliminar toda a irritabilidade, a aspereza nos juízos e a inconveniência nas palavras.

A verdadeira polidez nunca se revelará, enquanto o eu for considerado o objeto supremo.

O amor deve residir no coração. Um cristão verdadeiro encontra os motivos das suas ações no profundo amor que tem pelo seu Mestre.

Das raízes do seu amor a Cristo brota um interesse altruísta pelos seus irmãos. O amor comunica a quem o possui graça, decência e elegância no comportamento. Ilumina a fisionomia e educa a voz; refina e eleva todo o ser.
A vida compõe-se, principalmente, não de grandes sacrifícios ou de realizações maravilhosas, mas de pequenas coisas. Na maior parte das vezes, é pelas pequenas coisas que parecem insignificantes que grande bem ou mal é trazido à nossa vida.

É pelo fracasso em suportar as provas que nos sobrevêm nas coisas pequenas, que os hábitos são moldados e que se deforma o caráter. E, quando nos assaltam as provas maiores, encontram-nos desprevenidos. Só agindo por princípio nas provas da vida quotidiana é que podemos adquirir poder para ficar firmes e fiéis nas situações mais perigosas e difíceis.
Nunca estamos sós. Quer O escolhamos, quer não, temos um companheiro. Lembrem-se de que, onde quer que estejam, façam o que fizerem, Deus aí está. Nada do que se diz, faz ou pensa escapa à Sua atenção. Para cada palavra ou ação, temos uma testemunha - o Deus santo e que odeia o pecado. Pensem sempre nisso, antes de falarem ou agirem.

Como cristãos, são membros da família real, filhos do Rei dos Céus. Não digam nenhuma palavra, nem pratiquem nenhuma ação que desonre o “bom nome que sobre vós foi invocado”. (Tiago 2:7).
Estudem cuidadosamente o caráter divino-humano, e perguntem-se constantemente: “O que faria Jesus no meu lugar?” Esta deve ser a medida do nosso dever.

Não se associem desnecessariamente com aqueles que, pelos seus artifícios, poderiam debilitar o vosso desejo de fazer o que é certo ou manchar a vossa consciência. Entre estranhos, na rua, nos carros, em casa, não façam nada que possa ter a menor aparência de mal.

 Façam cada dia alguma coisa para melhorar, embelezar e enobrecer a vida que Cristo comprou com o Seu próprio sangue.
Atuem sempre por princípio, nunca por impulso. Temperem a impetuosidade da vossa natureza com a doçura e a bondade. Evitem toda a leviandade e frivolidade. Que nenhum gracejo vil saia dos vossos lábios. Mesmo os vossos pensamentos não devem ser deixados à rédea solta. Devem ser dominados e levados cativos à obediência de Cristo. Que eles estejam ocupados com coisas santas. Então, pela graça de Cristo, serão puros e verdadeiros.
Necessitamos de ter um sentimento constante do poder enobrecedor dos pensamentos puros. A única segurança para uma alma está em pensar corretamente. “Como imaginou na sua alma, assim é” o homem. (Prov. 23:7). A faculdade de se dominar desenvolve-se pela prática. O que a princípio parece difícil torna-se fácil pela repetição constante, até que os retos pensamentos e ações se tornam habituais. Se quisermos, podemos afastar-nos de tudo o que é vulgar e degradante, e alcançar um padrão elevado. Podemos ser respeitados pelos homens e amados por Deus.
Cultivem o hábito de falar bem dos outros. Pensem mais nas boas qualidades daqueles com quem se relacionam, e olhem o menos possível para os seus erros e fracassos.
Quando forem tentados a queixar-se do que alguém disse ou fez, louvem alguma coisa na vida ou no caráter dessa pessoa. Cultivem a gratidão. Louvem a Deus pelo Seu admirável amor em dar a Cristo para morrer por nós. Nunca compensa pensarmos nas nossas mágoas. Deus convida-nos a meditar na Sua misericórdia e no Seu amor incomparável, para que sejamos inspirados com o louvor.
Os trabalhadores fervorosos não têm tempo para pensar nas faltas dos outros. Não podemos viver alimentando-nos das cascas das faltas e fraquezas dos dos outros. A maledicência é uma dupla maldição, que recai mais pesadamente sobre quem fala do que sobre quem ouve. Quem espalha as sementes da dissensão e da discórdia colhe na sua própria alma os frutos mortais. O próprio ato de procurar o mal nos outros desenvolve o mal em quem procura. Ao pensarmos nas faltas dos outros, somos transformados à sua imagem. Mas se contemplarmos Jesus, se falarmos do Seu amor e da perfeição do Seu caráter, somos transformados à Sua imagem. Ao contemplarmos o alto ideal que Ele colocou diante de nós, subiremos a uma atmosfera santa e pura, que é a própria presença de Deus.

Quando aí permanecemos, sai de nós uma luz que irradia sobre todos os que estiverem em contacto connosco.
Em vez de criticar e de condenar os outros, digam: “Devo trabalhar para minha própria salvação. Se coopero com Aquele que deseja salvar a minha alma, devo vigiar-me cuidadosamente, afastar da minha vida tudo o que é mau, vencer todos os defeitos, tornar-me nova criatura em Cristo. Então, em lugar de enfraquecer os que lutam contra o mal, posso fortalecê-los com palavras animadoras.”

Somos demasiado indiferentes uns com os outros. Esquecemos muitas vezes que os nossos companheiros de trabalho precisam de força e de ânimo. Tenham o cuidado de lhes demonstrar o vosso interesse e simpatia. Ajudem-os com as vossas orações, e façam-lhes saber que oram por eles.
Nem todos os que se dizem obreiros de Cristo são verdadeiros discípulos. Entre os que trazem o Seu nome, e que até são contados entre os Seus obreiros, há alguns que não O representam no caráter. Não são governados pelos Seus princípios. Tais pessoas são muitas vezes causa de perplexidade e de desânimo para os seus companheiros de trabalho que são novos na experiência cristã; mas ninguém precisa de ser enganado. Cristo deu-nos um exemplo perfeito. Ordena-nos que O sigamos.
Até ao fim dos tempos, haverá joio no meio do trigo. Quando os servos do pai de família, no zelo pela sua honra, lhe pediram autorização para arrancar o joio, ele disse: “Não; para que, ao colher o joio não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa.” (Mat. 13:29 e 30.
Na Sua misericórdia e longanimidade, Deus suporta pacientemente os maus e até os hipócritas. Entre os apóstolos escolhidos de Cristo encontrava-se Judas, o traidor. Deverá, então, ser causa de surpresa ou desânimo a existência de hipócritas entre os Seus obreiros de hoje? Se Aquele que lê os corações, pôde suportar junto de Si quem Ele sabia que O havia de trair, com que paciência não deveríamos nós suportar os que erram!
E nem todos, mesmo entre os que parecem errar mais, são como Judas. Pedro, impetuoso, precipitado e cheio de confiança própria, aparentemente esteve muitas vezes em situação mais desvantajosa do que Judas. Foi mais vezes censurado pelo Salvador. Mas que vida de serviço e sacrifício foi a sua! Que testemunho deu do poder da graça de Deus! Tanto quanto pudermos, devemos ser para os outros o que Jesus era para os Seus discípulos, quando andava e falava com eles na Terra.
Considerem-se missionários, em primeiro lugar, entre os vossos companheiros de trabalho. Por vezes, para ganhar alguma alma para Cristo requer muito tempo e canseiras. E quando uma alma se volta do pecado para a justiça, há alegria na presença dos anjos. Pensam que os espíritos ministradores que velam sobre estas almas ficam satisfeitos ao ver com que indiferença elas são tratadas por alguns que se dizem cristãos? Se Jesus nos tratasse como muitas vezes tratamos uns aos outros, quem de nós poderia salvar-se?
Lembrem-se de que não podem ler os corações. Não sabem os motivos que determinaram as ações que vos parecem erradas. Há muitos que não receberam uma educação correta. O seu caráter está deformado, duro e nodoso, e parece torto em todos os sentidos. Mas a graça de Cristo pode transformá-los. Nunca os ponham de lado, nunca os levem a desanimar ou a perder a esperança, dizendo: “Desapontou-me, e não farei nada por o ajudar.” Algumas palavras ditas precipitadamente sob o efeito da provocação - exatamente o que pensamos que eles merecem - podem cortar as cordas da influência que deviam ter ligado o seu coração ao nosso.
A vida coerente, a paciente tolerância, a calma de espírito em face da provocação, são sempre o argumento mais decisivo e o apelo mais solene. Se tiveram oportunidades e vantagens que os outros não tiveram, reconheçam esse privilégio, e sejam sempre ensinadores sábios, solícitos e amáveis.
Para obter no lacre a impressão nítida e forte de um selo, não lho aplicam de uma maneira precipitada e violenta; colocam cuidadosamente o selo no lacre mole e, lenta e firmemente, fazem pressão sobre ele, até que o lacre tenha endurecido na forma desejada. Tratem as almas humanas da mesma forma. 
A continuidade da influência cristã é o segredo do seu poder, e isso depende da firmeza com que manifestam o caráter de Cristo. Ajudem os que erraram, contando-lhes as vossas experiências. Mostrem-lhes como, quando cometeram erros graves, a paciência, a bondade e o auxílio dos vossos companheiros de trabalho vos deram coragem e esperança.
Até ao Juízo, nunca conhecerão a influência que uma conduta bondosa e prudente teve sobre os incoerentes, os irrazoáveis e os indignos. Quando deparamos com a ingratidão e a traição dos sagrados depósitos, somos tentados a mostrar o nosso desprezo e indignação. É isso que os culpados esperam e estão preparados para isso. Mas a bondosa paciência apanha-os de surpresa e, muitas vezes, desperta os seus melhores impulsos, e faz nascer neles o desejo de uma vida mais nobre.
“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gál. 6:1 e 2).
Todos os que professam ser filhos de Deus deviam ter na mente que, como missionários, serão postos em contacto com todas as classes de pessoas. Há as educadas e as rudes, as humildes e as altivos, as religiosos e as céticas, as instruídas e as ignorantes, as ricos e as pobres. Essas diferentes mentalidades não podem ser tratados da mesma maneira; mas todas carecem de bondade e simpatia. Pelo contacto mútuo, o nosso espírito devia tornar-se delicado e refinado. Dependemos uns dos outros, e estamos intimamente unidos pelos laços da fraternidade humana.
É através dos relacionamentos sociais que o cristianismo entra em contacto com o mundo. Cada homem ou mulher que recebeu a iluminação divina deve derramar luz na senda tenebrosa dos que não conhecem o melhor caminho. A influência social, santificada pelo Espírito de Cristo, deve servir para levar almas ao Salvador. Cristo não deve ser escondido no coração como um tesouro cobiçado, sagrado e doce, fruído exclusivamente pelo possuidor. Devemos ter Cristo em nós como uma fonte de água, que corre para a vida eterna, refrescando a todos os que entram em contacto connosco.

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