O FERMENTO DOS FARISEUS E SADUCEUS

Quando JESUS CRISTO irrompeu na História humana como Filho de Deus humanado, o cenário religioso do povo de Judá (e de Benjamim) estava muito longe de ser homogéneo. Apesar de já serem "o menor de todos os povos" (Deuteronómio 7:7; versão ARA) - e isto ainda ANTES da separação entre as tribos, que ocorreu após a morte do rei Salomão, cerca de 931 a.C. (ver: 1 Reis 11:43 a 12:25) - as crenças religiosas divergiam consideravelmente entre si, e isto no seio do próprio Judaísmo.

Os grupos mais expressivos eram os ESSÉNIOS (não mencionados no Novo Testamento, mas em fontes históricas da época), os ZELOTAS (Simão provavelmente pertenceria a esse grupo antes de aceitar ser discípulo de Jesus, pois aparece com esse cognome - "zelote" - em Mateus 10:4, Marcos 3:18, Lucas 6:15 e Atos 1:13, na versão ARA), mas sobretudo os SADUCEUS e os FARISEUS. Estes dois últimos grupos eram aqueles que, sem dúvida, dominavam o espectro religioso judaico no primeiro século da Era Cristã. Os zelotas também são considerados, por alguns, como sendo um sub-grupo (mais) radical de fariseus que se opunham ao domínio romano na Palestina.

A população em geral, na sua maioria, normalmente seguia as convicções religiosas de um ou do outro grupo, que, não poucas vezes, se digladiavam entre si. Foi a esses DOIS GRUPOS MAIORITÁRIOS, em termos de influência religiosa, que Jesus se referiu, quando disse: "Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus." (Mateus 16:6).

Quando Jesus fez essa advertência, os Seus discípulos - que, na sua esmagadora maioria, "eram homens iletrados e incultos" (Atos 4:13 - versão ARA) para os padrões culturais da época - não perceberam patavina do que Jesus lhes disse, e levaram a conversa para um outro assunto totalmente em dessintonia com o que Jesus acabara de lhes dizer: "E eles arrazoavam entre si, dizendo: É porque não nos fornecemos de pão." (Mateus 16:7).

Jesus acabou por esclarecer o que queria, efetivamente, dizer com essa expressão "misteriosa" - o fermento dos fariseus e saduceus: "Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus? Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas DA DOUTRINA DOS FARISEUS [E DOS SADUCEUS - versão ARA]." (Mateus 16:11-12).


Qual era a "DOUTRINA DOS FARISEUS E SADUCEUS"?

1º) Comecemos pelos SADUCEUS: a sua principal crença (ou falta dela!) era dizerem "não haver ressurreição" (Mateus 22:23). Mas também afirmavam não haver "nem anjo, nem espírito" (Atos 23:8). Ou seja, negavam as realidades sobrenaturais. Poderiam ser considerados como sendo os céticos ou os agnósticos daquele tempo, não fosse o caso de serem religiosos. Assim sendo, poder-se-á dizer, mais corretamente, que eram os religiosos LIBERAIS daquele tempo. Criam numas coisas, mas não noutras - tinham uma religião "à la carte" (ao "gosto do freguês"). A ignorância das Escrituras, para além da sua falta de comunhão REAL com Deus, eram certamente a RAZÃO PRINCIPAL das suas crenças que não seguiam a ortodoxia bíblica, daí Jesus lhes ter dito explicitamente: "Errais, NÃO CONHECENDO AS ESCRITURAS, NEM O PODER DE DEUS (por certamente não o experimentarem nas suas vidas);" (Mateus 22:29). Por isso faz todo o sentido acreditar nas palavras do famoso historiador judeu Flávio Josefo que disse que "a seita dos saduceus, que nos tribunais, entre os judeus, são os mais cruéis e desumanos." (Antiguidades Judaicas XX, 9; citado na obra de Ernesto Ferreira, A Verdade Cristã, Publicadora SerVir, 2012, pág. 18).

2º) Já os FARISEUS, comparativamente aos saduceus, acreditavam naquilo em que estes não acreditavam: "Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa." (Atos 23:8). Destes, Jesus pôde dizer: "Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, tudo o que vos disserem [para Jesus ter afirmado isto, é porque o seu ensino era relativamente correto, embora Jesus os tivesse igualmente criticado por seguirem "a tradição dos antigos", que nada mais era do que "mandamentos de homens", tradição essa pela qual INVALIDAVAM "a palavra de Deus" - ver: Marcos 7:1-13]; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem, e não praticam: Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los;" (Mateus 23:2-4). Estes eram, certamente, os religiosos CONSERVADORES daquele tempo, manifestando um grande zelo pelas suas tradições, mas não, necessariamente, pela Palavra de Deus.

Resumindo: enquanto que um grupo - os saduceus - NÃO CONHECIAM AS ESCRITURAS, o outro grupo - os fariseus - INVALIDAVAM A PALAVRA DE DEUS, "pela vossa tradição, que vós ordenastes" (Marcos 7:13)!

Conseguem perceber o PONTO COMUM que UNIA estes dois grupos, APARENTEMENTE opostos entre si? O seu DESPREZO PELA PALAVRA DE DEUS!

Mas como Jesus referia-se constantemente às Escrituras (é impressionante o número de vezes que Ele emprega a expressão "está escrito"!), quer ao enfrentar as tentações de satanás (ver: Mateus 4:4, 7, 10), quer nas discussões com os Seus antagonistas (ver: Lucas 10:25-26; Mateus 26:54), quer para Se revelar a Si mesmo e ao Seu plano (ver: João 5:39; Lucas 4:16, 21; 24:25-27, 44-45), não admira que Ele tenha suscitado inquietação e, por último, ódio, quer da parte dos saduceus, quer da parte dos fariseus! Por isso, e embora houvesse "grande dissensão entre fariseus e saduceus", mesmo após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus ao céu (ver: Atos 23:7; ARA), eles conseguiram encontrar um "denominador comum" - que era, sem dúvida, a sua oposição a Cristo - para "O tentarem"... JUNTOS (ver: Mateus 16:1)!

Salomão foi certamente inspirado ao escrever: "O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer: de modo que NADA há novo debaixo do sol." (Eclesiastes 1:9). E, a propósito: conseguem discernir a razão pela qual Ellen White escreveu que "far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a REFLETIR SOBRE A VIDA DE JESUS (...) e deixar que a imaginação se apodere de CADA CENA, ESPECIALMENTE AS FINAIS" (Eventos Finais, pág. 57 da edição impressa e pág. 64 da edição online; minha ênfase em maiúsculas)? Eu creio que este conselho se deve ao facto de que o povo de Deus, nas cenas "finais" da história deste mundo, irá viver uma situação MUITO SEMELHANTE à que Jesus viveu na reta final do Seu ministério terrestre, antes da Sua morte, a saber, irá sentir "na pele", a força cruel e brutal de uma COLIGAÇÃO composta por pessoas que, embora tendo crenças divergentes entre si, se "unirão" contra TODOS aqueles que seguem unicamente a Deus e à Sua Palavra.


A GRANDE ESPERANÇA do povo de Deus é, UNICAMENTE, esta: "O céu e a terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar." (Mateus 24:35). E todos aqueles que fizerem dessa Palavra a base e o fundamento da sua fé e prática de vida, não hão de passar, igualmente: "E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." (1 João 2:17).

 ( Fonte )