(NOTA: Este artigo é MUITO LONGO e "difícil de digerir", por conseguinte a sua leitura só será apreciada por pessoas que gostam de aprofundar temáticas complexas.)
Quem não se viu já envolvido numa ou noutra controvérsia teológica, consciente ou inconscientemente, por vontade própria ou mesmo contra a sua própria vontade? Não direi todos, mas certamente que UMA GRANDE MAIORIA dos membros de Igreja já se viu envolvido numa ou noutra controvérsia teológica.
Não quero aqui FILOSOFAR ou mesmo DIVAGAR sobre um assunto EXTREMAMENTE SENSÍVEL e que, muitas e muitas vezes, provoca e tem provocado muita dor e angústia, de ambos os lados "da barricada"!
Iniciemos, então, a nossa reflexão sobre este assunto muito melindroso, em TERRENO SÓLIDO e procuremos manter-nos em terreno sólido durante toda a nossa "digressão" - que vai ser um pouco longa.
Há um PRINCÍPIO HERMENÊUTICO BÁSICO que, creio, todos estamos de acordo - se, porventura, sentir que não está de acordo com este princípio hermenêutico (isto é, da interpretação do sentido a dar às palavras do texto bíblico) então, certamente, não poderemos mais estar de acordo em nada do que se seguirá. Esse princípio hermenêutico fundamental é expresso na própria Bíblia, nos seguintes textos bíblicos (todas as maiúsculas que utilizo neste e noutros artigos são para mera ênfase, uma vez que o Facebook não permite a utilização de negritos, itálicos ou sublinhados):
“Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: NÃO ULTRAPASSEIS O QUE ESTÁ ESCRITO; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro.” (1 Coríntios 4:6);
“Toda palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que nEle confiam. NADA ACRESCENTES ÀS SUAS PALAVRAS, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso.” (Provérbios 30:5-6);
“Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: SE ALGUÉM LHES FIZER QUALQUER ACRÉSCIMO, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, SE ALGUÉM TIRAR QUALQUER COISA das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro.” (Apocalipse 22:18-19).
Será que Jesus utilizou, Ele mesmo, este princípio hermenêutico básico? Vejamos:
“Jesus, porém, respondeu: ESTÁ ESCRITO:”
Respondeu-lhe Jesus: TAMBÉM ESTÁ ESCRITO:”
“Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, PORQUE ESTÁ ESCRITO:” (Mateus 4:4, 7, 10).
Contudo, o diabo também pode apresentar um “está escrito”:
“e lhe disse: Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, PORQUE ESTÁ ESCRITO: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.” (Mateus 4:6) (citando o Salmo 91:11-12).
UMA PRIMEIRA LIÇÃO MUITO IMPORTANTE:
Perante um “está escrito” apresentado por satanás, JESUS CONTRAPÔS com um “TAMBÉM está escrito” (Mateus 4:7).
Daí podemos inferir o seguinte:
A CAUSA PRIMORDIAL de (quase) todas as controvérsias teológicas - o diabo induz-nos, muitas vezes, e com sucesso, a olhar APENAS para um “está escrito”;
A SOLUÇÃO - está em considerarmos um “TAMBÉM está escrito”. Por outras palavras: em qualquer assunto revelado por Deus, temos que tomar em consideração A TOTALIDADE DO QUE ESTÁ REVELADO, E NÃO APENAS UMA PARTE DA REVELAÇÃO! Só assim poderemos ver-nos livres de ciladas de origem diabólica e cairmos em controvérsias desnecessárias!
Caso não ajamos dessa forma, corremos o FORTE RISCO de cairmos na categoria de pessoas mencionadas pelo apóstolo Pedro:
“Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por Ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis, e tende por salvação a longanimidade do nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de facto, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os IGNORANTES e INSTÁVEIS deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.” (2 Pedro 3:14-16).
Vejamos agora alguns EXEMPLOS DE APARENTES CONTRADIÇÕES BÍBLICAS (das mais simples às mais "complicadas"):
PRIMEIRO EXEMPLO:
Por um lado Jesus afirmou isto:
“Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; NÃO VIM CHAMAR JUSTOS, E SIM PECADORES.” (Marcos 2:17).
Mas, por outro lado, Paulo afirmou que:
“…Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo IGREJA GLORIOSA, SEM MÁCULA, NEM RUGA, NEM COISA SEMELHANTE, PORÉM SANTA E SEM DEFEITO. (Efésios 5:25-27).
Pergunta: como pode Jesus ter, um dia, uma "Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito" SE, essa Igreja foi formada não por "justos, e sim pecadores"? Não parece um contrassenso? Sim, seria um total contrassenso SE, entre o momento em que Jesus chamou os "pecadores" para fazerem parte da Sua Igreja e o momento da Sua vinda, o Evangelho da Graça divina não tivesse transformado pessoas PECADORAS em pessoas SANTAS E SEM DEFEITO, através dos processos da purificação (ou justificação) e da santificação, como bem nos indica o texto de Efésios 5:26.
SEGUNDO EXEMPLO:
Por um lado o apóstolo Paulo afirmou isto:
“Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus. (…) E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: (…) Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e SIM MEDIANTE A JUSTIÇA DA FÉ.” (Romanos 4:1-2, 6, 13).
Mas, por outro lado, o apóstolo Tiago afirmou que:
Não FOI POR OBRAS QUE ABRAÃO, o nosso pai, FOI JUSTIFICADO, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? (Tiago 2:21).
Estariam os pontos de vista expressos pelos apóstolos Paulo e Tiago em TOTAL CONTRADIÇÃO um com o outro, sobre o MESMO PERSONAGEM do Antigo Testamento, Abraão? Claro que não estavam! Mas que PARECE, lá isso PARECE, ao ponto do grande reformador protestante Martinho Lutero ter considerado que a epístola de Tiago era uma "epístola de palha" e que, por conseguinte, deveria ser retirada do Cânone bíblico!!! Paulo enfatizou O MODO como Abraão foi justificado, ou recebeu essa "Justiça da fé"; Tiago enfatizou O FRUTO dessa justificação - as obras que Abraão fez DEPOIS de ter sido justificado e que provaram que ele tinha sido, de facto, justificado!
TERCEIRO EXEMPLO:
Alguns versículos bíblicos mostram-nos que DEUS É UM:
Deuteronómio 6:4
Isaías 44:6-8
Isaías 45:21-22
Marcos 12:29, 32.
Isaías 44:6-8
Isaías 45:21-22
Marcos 12:29, 32.
Muitos outros versículos bíblicos mostram-nos igualmente que DEUS É MAIS DO QUE UM:
Génesis 1:26 (“Elohim” / plural)
Génesis 11:7
Isaías 48:16; 61:1
Mateus 3:16-17
João 14:16; 15:26
1 Coríntios 12:4-6
2 Coríntios 13:13
Gálatas 4:6
Efésios 2:18
1 Pedro 1:1-2
Génesis 11:7
Isaías 48:16; 61:1
Mateus 3:16-17
João 14:16; 15:26
1 Coríntios 12:4-6
2 Coríntios 13:13
Gálatas 4:6
Efésios 2:18
1 Pedro 1:1-2
Então, em que é que ficamos: DEUS É UM OU É MAIS DO QUE UM? Como reconciliar esta “contradição” de que Deus é UM, mas composto de TRÊS pessoas?
No hebraico, existem duas palavras diferentes – yahid e ehad – que foram traduzidas por “UM”, mas que têm, contudo, significados diferentes:
yahid – significa um só / único do género / especial
Exemplo:
“Toma teu filho, teu único (yahid) filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá…” (Génesis 22:2);
Ehad – significa a unidade de diferentes pessoas
Exemplos:
“…tornando-se os dois UMA SÓ (ehad) carne.” (Génesis 2:24);
“De modo que já NÃO SÃO MAIS DOIS, porém UMA SÓ carne.” (Mateus 19:6);
“e o SENHOR disse: Eis que o povo é UM (ehad), e todos têm a mesma linguagem.” (Génesis 11:6);
“Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o ÚNICO (ehad) SENHOR.” (Deuteronómio 6:4).
Portanto, a SOLUÇÃO para esta APARENTE CONTRADIÇÃO é reconhecermos que EXISTE UMA SÓ DIVINDADE, unida no MESMO objetivo e no MESMO propósito, mas CONSTITUÍDA POR DIFERENTES e MÚLTIPLAS PESSOAS DIVINAS.
Passemos agora a considerar um...
EXEMPLO DE APARENTE CONTRADIÇÃO ENTRE A BÍBLIA E OS ESCRITOS DE EGW:
O apóstolo Pedro escreveu isto:
“NÃO RETARDA O SENHOR A SUA PROMESSA [da Sua vinda - ver: 2 Pedro 3:4], como alguns a julgam demorada; pelo contrário, Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.” (2 Pedro 3:9).
Mas, por outro lado, Ellen White escreveu isto:
“Usando de misericórdia para com o mundo, JESUS RETARDA A SUA VINDA, para que os pecadores possam ter oportunidade de ouvir a advertência, e encontrar refúgio n’Ele, antes que a ira de Deus seja derramada.” (O Grande Conflito, nova edição da Publicadora Servir, pág. 380).
Bom, aqui a contradição PARECE mais do que evidente! Ambos os autores falam do MESMO acontecimento - a segunda vinda de Cristo - mas enquanto o apóstolo Pedro diz que Jesus NÃO retarda a promessa da Sua vinda, a profetisa Ellen White diz que Jesus RETARDA a Sua vinda!!!
Quem tem razão: o apóstolo Pedro ou Ellen G. White? Há apenas 4 HIPÓTESES (e já chegam!):
1ª) O apóstolo Pedro tem razão e EGW está errada (muitos adventistas liberais aceitariam de imediato esta hipótese, já para não falar dos nossos mais acérrimos inimigos dos ramos evangélico-protestantes);
2ª) EGW tem razão, e embora não se afirme isso, ignora-se o que o apóstolo Pedro afirma de forma inequívoca (certamente que os adventistas reformistas e alguns setores ultraconservadores dentro do Adventismo, enveredariam facilmente por esta opção);
3ª) Nem o apóstolo Pedro nem EGW têm razão (bom, esta opção, muito seguramente, só seria aceite para quem já não acredita na Inspiração dos escritos de EGW nem sequer na Inspiração da própria Bíblia);
4ª) Quer o apóstolo Pedro quer EGW têm razão no que afirmam, dependendo da perspetiva pela qual o assunto seja visto (esta é a opção defendida por aqueles que não veem nenhuma contradição entre aquilo que dizem dois ou mais autores inspirados, neste caso o apóstolo Pedro e Ellen G. White).
Bom, para ser honesto, tenho que dizer que EGW TAMBÉM escreveu isto:
“Mas, como as estrelas no vasto circuito da sua indicada órbita, OS DESÍGNIOS DE DEUS NÃO CONHECEM ADIANTAMENTO NEM DEMORA. Mediante os símbolos da grande escuridão e do forno fumegante, Deus revelara a Abraão a servidão de Israel no Egito, e declarara que o tempo da sua peregrinação seria de quatrocentos anos. "Sairão depois com grandes riquezas." Gén. 15:14. Contra essa palavra, todo o poder do orgulhoso império de Faraó batalhou em vão. "NAQUELE MESMO DIA", indicado na promessa divina, "todos os exércitos do Senhor saíram da terra do Egito." Êxo. 12:41.
Assim, nos conselhos divinos FORA DETERMINADA A HORA DA VINDA DE CRISTO. QUANDO O GRANDE RELÓGIO DO TEMPO INDICOU A HORA CERTA, JESUS NASCEU EM BELÉM. (O Desejado de Todas as Nações, nova edição da Publicadora Servir, pág. 23).
Na perspetiva DIVINA, não existe "ADIANTAMENTO NEM DEMORA"! Contudo, na perspetiva HUMANA, já existe demora, por isso o apóstolo Pedro também ter referido que "alguns a julgam demorada [a vinda de Cristo]".
Começam a ter um VISLUMBRE do porquê das controvérsias? É que, na maior parte das vezes, uns enfatizam UMA perspetiva, outros enfatizam OUTRA perspetiva, mas AS DUAS PERSPETIVAS ESTÃO CORRETAS, SENDO QUE SE COMPLEMENTAM UMA À OUTRA!
Vamos agora aumentar "o grau de dificuldade", e passemos agora a um exemplo de APARENTE CONTRADIÇÃO que tem alimentado ENORMES CONTROVÉRSIAS dentro da IASD por mais de 60 anos (1957 - 2018) - a questão da NATUREZA HUMANA DE CRISTO.
Comecemos por aquilo que diz a Bíblia:
Por um lado, o apóstolo Paulo escreveu isto:
“Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus ENVIANDO O SEU PRÓPRIO FILHO EM SEMELHANÇA DE CARNE PECAMINOSA E NO TOCANTE AO PECADO; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,” (Romanos 8:3).
Alguns afirmam que Jesus NÃO TINHA uma "carne pecaminosa", mas apenas uma "SEMELHANÇA de carne pecaminosa", querendo com isso dizer que a "carne pecaminosa" de Jesus NÃO era real, mas apenas APARENTE! Mas, O MESMO apóstolo que escreveu este texto aos Romanos, ao escrever aos Filipenses, escreveu isto:
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se EM SEMELHANÇA DE HOMENS; e, RECONHECIDO EM FIGURA HUMANA, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” (Filipenses 2:5-8).
Pergunto: será que neste último texto bíblico, o apóstolo Paulo somente quis dizer que Jesus tinha a APARÊNCIA ou a "FIGURA HUMANA", mas NÃO ERA um homem real? Se afirmarmos isso, simplesmente "deitamos completamente por terra" a plena HUMANIDADE DE CRISTO! Não, esse caminho é "SENTIDO PROIBIDO"! Logo, e porque Paulo usou o mesmo termo grego - omoiomati - quer em Romanos 8:3 quer em Filipenses 2:7, a CONCLUSÃO LÓGICA QUE SE IMPÕE é simplesmente esta: Jesus tinha uma "natureza pecaminosa" TÃO REAL, quanto Ele era um HOMEM REAL!
Mas a afirmação de Paulo PARECE entrar em contradição com o que o apóstolo João escreveu:
“Sabeis também que Ele [Cristo] se manifestou para tirar os pecados, e NELE NÃO EXISTE PECADO.” (1 João 3:5).
Reparem que João NÃO DIZ O MESMO que o apóstolo Pedro também escreveu:
"O QUAL [CRISTO] NÃO COMETEU PECADO, nem dolo algum se achou em Sua boca;" (1 Pedro 2:22).
Reparem que, enquanto Pedro afirma que Cristo "não cometeu pecado", João vai um passo mais além, ao afirmar que, em Cristo, "não existe [sequer] pecado"!
Pergunto: QUEM tem razão: Paulo ou João? Neste ponto desta minha exposição, já sabem QUAL é a minha resposta, não sabem? OS DOIS TINHAM RAZÃO, porque JESUS TINHA, DE FACTO, e não apenas de aparência, UMA NATUREZA PECAMINOSA, mas nEle NÃO HAVIA QUALQUER PECADO! Complicado? Aparentemente, SIM!
Mas, as APARENTES CONTRADIÇÕES ainda não ficam por aqui...
Vamos agora ver aquilo que Ellen White escreveu (citações extraídas do livro publicado pela CASA, "Ellen White e a Humanidade de Cristo"):
“Jesus também lhes disse… Que Ele tomaria a NATUREZA DECAÍDA DO HOMEM, e que a Sua força não seria nem mesmo igual à deles.” (Spiritual Gifts, vol. 1, pág. 25 – 1858);
“Foi por ordem de Deus que CRISTO LEVOU SOBRE SI A FORMA E A NATUREZA DO HOMEM CAÍDO.” (Spiritual Gifts, vol. 4a, pág. 115 – 1864);
“Quando o Filho de Deus veio ao mundo para morrer [como] sacrifício do homem, Ele colocou de lado a Sua glória e elevada estatura. A Sua altura era apenas um pouco maior do que a dos homens, em geral. A Sua aparência pessoal não continha marcas especiais do Seu caráter divino, o que, por si só, inspiraria a fé. Mesmo assim, A SUA FORMA PERFEITA, o Seu porte digno, o Seu semblante, que expressava benevolência, amor e santidade, NÃO ERAM IGUALADOS POR NENHUM SER HUMANO QUE VIVESSE, então, sobre a terra.” (Spiritual Gifts, vol. 4a, pág. 119 – 1864);
“Era um poderoso solicitador, NÃO POSSUINDO AS PAIXÕES DA NOSSA NATUREZA HUMANA CAÍDA, MAS RODEADO DAS MESMAS ENFERMIDADES, tentado em todos os pontos como nós o somos.” (Testemunhos para a Igreja, vol. 2, pág. 509);
“Tomando a natureza humana… Cristo condescendeu em tomar a natureza humana, e ‘COMO NÓS, EM TUDO FOI TENTADO’ (Heb 4:15) a fim de poder saber como socorrer a todos os que fossem tentados. (Heb 2:18) (…) Ele é o nosso exemplo em tudo. É UM IRMÃO EM NOSSAS FRAQUEZAS, MAS NÃO EM POSSUIR IDÊNTICAS PAIXÕES. SENDO SEM PECADO, A SUA NATUREZA RECUAVA DO MAL. ” (Testemunhos para a Igreja, vol. 2, pág. 201 e 202);
“Através da Sua humilhação e pobreza, CRISTO IDENTIFICAR-SE-IA COM A DEBILIDADE DA RAÇA CAÍDA. … A grande obra da redenção só poderia ser realizada ao TOMAR O REDENTOR O LUGAR DE ADÃO CAÍDO. … O Rei da glória propôs humilhar-se até ao nível da humanidade caída! … ELE TOMARIA A NATUREZA DO HOMEM CAÍDO…” (EGW, R&H, 24 fevereiro 1874);
“… a SUA NATUREZA ERA MAIS ELEVADA, PURA E SANTA DO QUE A DA RAÇA PECAMINOSA por quem Ele sofreu.” (EGW, R&H, 11 setembro 1888);
“Cristo é chamado de segundo Adão. Em pureza e santidade, conectado com Deus e amado por Deus, ELE COMEÇOU ONDE O PRIMEIRO ADÃO COMEÇOU.” (EGW, Youth Instructor, 2 junho 1898);
“Na plenitude dos tempos, Ele deveria ser revelado na forma humana. Ele devia tomar a Sua posição na liderança da humanidade TOMANDO A NATUREZA, MAS NÃO A PECAMINOSIDADE DO HOMEM.” (EGW, Signs of the Times, 29/05/1901);
“A NATUREZA HUMANA DE CRISTO ERA COMO A NOSSA, e o sofrimento era por Ele sentido de uma forma mais aguda, pois A SUA NATUREZA ESPIRITUAL ERA ISENTA DE TODA A MANCHA DE PECADO.” (EGW, Signs of the Times, 9 dezembro 1897).
ESCLARECIDOS? Ou, antes, CONFUNDIDOS?
A Revelação É A MESMA, mas PARECE contradizer-se, não é verdade? Então, o que devemos, legitimamente, fazer? Tomar APENAS E SÓ as declarações inspiradas que nos interessam, deixando as outras "de lado"?
Pois bem, amigos, aqui é que reside o CERNE DE (QUASE) TODAS AS CONTROVÉRSIAS TEOLÓGICAS! É que, cada um, muitas vezes, toma APENAS aquilo que lhe interessa, e o resto... bom, o resto é tomado pelos outros a quem não lhes interessa as declarações tomadas pelos primeiros! E assim temos o "ambiente perfeito" para uma guerra, em que cada um toma algo correto, mas não a TOTALIDADE do que a Revelação diz e... o diabo encarrega-se de fazer o resto do seu trabalho sujo!
Sabem que foi EXATAMENTE ISTO que aconteceu ANTES e DEPOIS da publicação do famoso livro "Questions on Doctrine" ("Questões sobre Doutrina"), publicado em 1957? É que, ANTES da publicação desse livro, talvez por ignorância, TODOS ou, pelo menos, a ESMAGADORA MAIORIA dos nossos pastores, teólogos e administradores, ensinavam e pregavam que Cristo veio a este mundo com uma natureza HUMANA semelhante à de Adão DEPOIS da queda... EM TUDO! Os autores do livro acima mencionado, sentindo a necessidade de fazerem pesquisas que lhes dessem a certeza de publicarem aquilo que nós, ASD, realmente cremos, "embarcaram" numa pesquisa a fundo do que Ellen White tinha escrito sobre a humanidade de Cristo (e outros assuntos), e descobriram OUTRAS citações de EGW que pareciam dizer o contrário daquilo que, comummente, se ensinava entre nós. E aqui, seguramente por conveniência, pois eles conheciam o pensamento teológico do público-alvo do livro - os protestantes evangélicos - eles escolheram "cirurgicamente" as declarações de EGW que iam precisamente ao encontro do pensamento teológico protestante! O resultado desta "MUDANÇA BRUSCA" no nosso ensino sobre a natureza humana de Cristo - com tudo o que isso implica! - não se fez esperar! A "bomba explodiu" e... estava iniciada uma terrível guerra teológica DENTRO do Adventismo que se iria prolongar por décadas e décadas e que chegou até aos nossos dias!
Onde esteve o problema? O problema teve uma ORIGEM DUPLA: quer os nossos pastores e teólogos ANTES de 1957, quer os autores do livro "Questions on Doctrine", NÃO SEGUIRAM UMA REGRA HERMENÊUTICA FUNDAMENTAL, que indiquei no início deste meu post, a saber, a de que É PROIBIDO retirar algo daquilo que está revelado: "e, SE ALGUÉM TIRAR QUALQUER COISA das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro.” (Apocalipse 22:19).
Como CONCILIAMOS, então, essas declarações "contraditórias" da Bíblia e do Espírito de Profecia, sobre a NATUREZA HUMANA de Cristo? Resposta: DA MESMA FORMA como conciliámos outras declarações bíblicas APARENTEMENTE contraditórias!
Em declarações aparentemente contraditórias, temos, QUASE SEMPRE, expostas as "duas faces de uma MESMA moeda"! Assim sendo, esta parece ser a forma mais LÓGICA e COERENTE de conciliarmos essas declarações acima expostas:
1. Adão, ANTES da queda:
NÃO TINHA:
- Enfermidades inocentes;
- Propensões pecaminosas.
- Propensões pecaminosas.
2. Adão, DEPOIS da queda:
TINHA:
- Enfermidades inocentes;
- Propensões pecaminosas.
- Propensões pecaminosas.
3. Jesus, ao encarnar numa NATUREZA HUMANA:
TINHA:
- Enfermidades inocentes.
NÃO TINHA:
- Propensões pecaminosas.
Reveja novamente, COM MUITA ATENÇÃO, as declarações INSPIRADAS acima transcritas e veja se consegue PERCEBER BEM o "QUADRO COMPLETO" que Ellen White "pinta" da natureza humana de Cristo.
Que implicações esta "VISÃO COMPLETA" de Jesus nos traz para a nossa vida espiritual?
Num artigo com este teor, não poderia terminar senão mencionando outras declarações inspiradas - já adivinharam? - APARENTEMENTE CONTRADITÓRIAS:
“Aquele que não tem uma fé suficiente em Cristo para crer que ELE O PODE IMPEDIR DE PECAR, não tem a fé que lhe dará entrada no reino de Deus.” (EGW, R&H, 10 março 1904, pág. 16, ou Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 360);
NÃO PODEMOS IGUALAR-NOS AO MODELO; mas PODEMOS IMITÁ-LO E ASSEMELHAR-NOS A ELE de acordo com a nossa capacidade.” (EGW, R&H, 5 fevereiro 1895, pág. 81);
“Quando está no coração obedecer a Deus, quando se fazem esforços nesse sentido, Jesus aceita esta disposição e esforço como o melhor serviço do homem e PREENCHE A INSUFICIÊNCIA COM OS SEUS DIVINOS MÉRITOS.” (EGW, Signs of the Times, 16 junho 1890).
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